História do azeite em Portugal
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História do azeite em Portugal... Pela engª Ana Monteiro...

"Há registos que durante o séc. XIII, em Portugal, o azeite já era um produto que movimentava a economia positivamente. Inicialmente, o cultivo estendia-se até à zona da cidade de Aveiro e só no século XVI é que se estendeu à zona norte de Portugal.
Gradualmente, foi crescendo regulamentos, visto que, era um produto e uma produção em expansão.
https://www.gpp.pt/estatistica/SIAZ/
https://diarioagrario.blogspot.pt/2015/04/producao-de-azeite-teve-uma-quebra-de-32.html
Olhares da história...
"Falar da história do azeite português é retroceder no tempo é ir ao encontro histórico de quem habitava nas terras onde hoje é o país designado Portugal.
"Por toda a parte, com o tronco contorcido e às vezes roído da cárie, com a folha miúda e prateada à luz do entardecer, na sombra protectora dos seus ramos simbólicos, a oliveira exprime, como nos tempos bíblicos, a rústica paz das almas e a fecundidade sagrada da terra." (Orlando Ribeiro)
Período da Pré-História ...
No atual território de Portugal existe um país onde a história do seu passado é notório. Iniciou-se com a Pré-História da Península Ibérica à cerca de 1,2 milhões de anos com o povoamento dos primeiros homídeos. Na Pré-História, temos vários períodos:
-Paleolítico - 7000 a.C.
-Mesólitico
-Néolítico - 7.000 a.C. - 3.000 a.C.
- Calcolítico ou Idade do Cobre - 3000 a.C. -1.900 a.C.
-Idade do Bronze - 1.800 a.C. - 700 a.C.
-Idade do Ferro - 700 a.C. - 2180 a. C.
-Expansão dos povos Indo-Europeus (celtas) desde os finais do século VIII a.C.
-Influência fenícia (Fenícios, Gregos, Cartagineses) todos colonizaram a Península Ibérica
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É de reforçar que a Pré-História durou até às Guerras Púnicas.
Neste período, houve três conflitos que opuseram a República Romana e a República de Cartago (cidade do Estado Fenício) que decorreu entre 264 a.C e 146 a.C..
Cartago, foi totalmente destruída e Roma passou a dominar o Mar Mediterrâneo (mar Atlântico e está compreendido entre a Europa Meridional, a Ásia Ocidental e a África setentrional. Tem aproximadamente uma área de 2,5 milhões de Km2)
"E com um ramo de oliveira o homem se purifica totalmente" Virgílio, Eneida; a.C.

Bucólicas-Geórgicas y Eneida de Virgilio; Facsímil del códice editado por Vicent García Editores, foto da web
Nos seus registos sobre o azeite e a oliveira do seu tempo é interessante ler no livro da Eneida:
"...835 Ou n'Ausônia assentar nos tolhe o medo?Quem distante apresenta insígnias sacrasE ramos de oliveira? as cãs e a barbaDo rei conheço que primeiro em RomaLegislará, da exígua e pobre Cures..."
(Virgílio, Eneida; a.C. Livro VI)
"...420 Se transfigura: a testa e face obscenaDe rugas ara, às cãs veste uma touca,Prega-lhe em cima um ramo de oliveira,E ao jovem se apresenta: "Sofres, Turno,Tantas lidas frustradas, que a fugidos..."
(Virgílio, Eneida; a.C. Livro VII)
"...320 Pontal, número, forma; nós prestemosDinheiro, arsenais, braços. E oradoresCem dentre os nobres deputar me agrada;Que, nas mãos a oliveira, em brinde ofertemMarfim, talentos de ouro, e a trábea e a sela325 Curul, do reino insígnias. Em consulta,Provede ao bem do combalido estado...."
(Virgílio, Eneida; a.C. Livro XI)

https://pt.calameo.com/read/000039711a634df05817b
https://www.wdl.org/pt/item/10649/
https://www.letras.ufrj.br/pgclassicas/files/upload/2010-ThaisePereiraBastosAlmeidaSilva.pdf
https://archive.org/stream/traduolivreouim00virggoog#page/n60/mode/2up
Na obra de Langhans também nos transmite que as oliveiras nesta época:
"...exigem grandes esforços e canseiras. Todas são transplantadas, colocadas em linha e a sua manutenção acarreta grandes despesas..."
https://it.wikipedia.org/wiki/Appiano_di_Alessandria
(Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 10)
Período Pré-Romano...
No período Pré-Romano
, pensa-se que a península Ibérica era habitada inicialmente por povos autóctones conhecidos
pelos Ileros. Viviam na zona sul e leste. Somente cerca 1000 a.C. é que chegaram os povos Indo-Europeus de origem Celta que viviam a Norte e a Ocidental da Península.
Nesta fase, da história antiga de Portugal, se relata que os Gregos, Fenícios-Cartagineses também habitavam a Península e estabeleceram pequenas colónias-feitorias comerciais costeiras, semi-permanentes, com grande importância estratégica. Estes povos, contribuíram culturalmente com o alfabeto greco-ibérico para as escrituras paleohispânicas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escritas_paleo-hisp%C3%A2nicas
Período Romano...
Este povo, ao sedentarizar-se nestas terras, trouxeram/exportaram as suas técnicas ocidentais usadas tanto na forma de tratar a oliveira, e o seu fruto, bem como, a arte de fazer o azeite. Eles conseguiam obter um aproveitamento altamente rentável sendo considerados mestres e peritos desta arte.Encontra-se vestígios de ânforas de azeite que eram importadas da zona de Bética e do Norte de África em lugares onde se comprova a sua existência da sua produção. As zonas onde foi encontrado estes vestígios é descrito por Fabião (1993-1994) em: Mértola, Tavira, Olhão, Loulé, Portimão, Silves, Lagos, Ilha do Pessegueiro, Sines, Santiago do Cacem, Alcácer do Sal, Trioa, Setúbal, Lisboa, Sintra, Alcochete, Vila Franca de Xira, Torres Novas, Tomar, Conimbriga, Arganil, Aljustrel, Beja e Elvas.

Foto: net
https://www.conimbriga.pt/index.html
«OLEA PRIMA OMNIUM ARBORUM EST»
No ano de 409, os povos Germânicos, Suevos, Vândalos e Alamos Sármatas desgastaram o Reno, Gália e a Península Ibérica.-Os Visigodos invadiram a Ibéria; -Os Suevos estabeleceram-se no Reino onde hoje é o norte de Portugal e Galiza; -Os Alanos, vândalos e os asdingos estabeleceram o Reino da Galécia; -Os Vândalos Silingos - Vandalúsia - Andaluzia - Hispânia ficou sobre domínio visigótico.

Estrabão afirma que no século III a.C. a existência de olivais na região actualmente designada por Ribatejo.
Link: Estrabão
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%ADnio,_o_Velho
Livros: https://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalis_Historia
https://gredos.usal.es/jspui/bitstream/10366/73266/1/Lusitania_rural_em_Plinio_o_Antigo.pdfhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalis_Historia
https://gredos.usal.es/jspui/bitstream/10366/73266/1/Lusitania_rural_em_Plinio_o_Antigo.pdf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalis_Historia
https://gredos.usal.es/jspui/bitstream/10366/73266/1/Lusitania_rural_em_Plinio_o_Antigo.pdf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalis_Historia
https://gredos.usal.es/jspui/bitstream/10366/73266/1/Lusitania_rural_em_Plinio_o_Antigo.pdf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estrab%C3%A3o
Plínio: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%ADnio,_o_Velho
No século IV e V d.C. o centro conserveiro de peixe ficava em Tróia - Setúbal. As conservas eram um produto de luxo" onde usava-se unicamente azeite para conservar o peixe enlatado. Importavam de Bizacena - Norte de África conforme certifica-se pelas ânforas encontradas. Elas têm a marca onde foram fabricadas, nas antigas localidades Romanas, como Líbia e Tunísia.
Queda do império Romano...
Após a queda do Império Romano devido ao seu enfraquecimento, estas províncias, foram ocupadas por povos Germânicos e posteriormente por Muçulmanos (Mouros e alguns Árabes).

Kitab al - filaha
A conquista dos territórios influenciou a expressão oral para designação dos vocábulos do tema da oliveira/azeite e a digressão pela antiguidade, também nos deu hoje em dia, testemunhos da técnica de plantação e produção da oliveira e do azeite. Outro autor árabe deste tempo, com obras realizadas sobre este tema, temos Ebn Hajaj e Abú-el-Jair.
Livro da agricultura de Abú-el-Jair:
https://books.google.pt/books?id=1bxAAQAAMAAJ&pg=PA696&lpg=PA696&dq=abu+el+jair&source=bl&ots=TczBxi1dsM&sig=CNCwsgjgRq3om5ilfoqmv1zwRMY&hl=pt-PT&sa=X&ei=ROiiVNuYHsmsU7r_gpgL&ved=0CDoQ6AEwBw#v=onepage&q&f=false
Na zona ocidental e Atlântica da Ibéria há como referência a primeira documentação datada de 747 da autoria de um historiador português capacitado de um conhecimento notório da vida rural e da economia da zona nordeste de Portugal. Alberto da Cunha Sampaio, natural de Guimarães (1841-1908) refere que no ano de 747, século VIII, na região "Galaico-minhota" (Galiza na freguesia de Oliveira do Douro) havia dois argumentos de ordem toponímica herdada da época visigótica.
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4721/1/Vol.1%20Parte%20I%20-%20II%20-%20Texto.pdf
No ano de 747 "fala" da "Villa O Livatello majore et alio Oliveto Ripa Sile" e também "mola de olivas" como no espanhol. E. Flórez também nos documenta esta situação em "Espãna Sagrada, XVI Madrid, 1752, 357".
https://www.cm-vilareal.pt/gremio/images/publicacoes/tellus53.pdf
Estas duas referências da Galiza nos transmitem que os grandes mosteiros que ergueram-se nesta zona preocuparam-se em restaurar os olivais e tradições culturais dos terrenos reconquistados aos Islâmicos/Árabes.
Alberto Sampaio (Sampaio 1923: 110) na sua obra intitulada: "Estudos históricos económicos, 1923" faz referência que no ano de 1066 existiu uma outra toponímia localizada na região sul do rio Minho, atual freguesia de Oliveira do Douro, em concreto em Vila Nova de Gaia - "Olivaria" e "Ulvaria".
Não se conhecem a existência de outras referências históricas nos documentos antigos nortenhos, considera-se que a sua escassez (da cultura de oliveira) seria grande a norte do Rio Mondego.
Muitos historiadores, comentam e afirmam que a gordura predominante para alimentação na vida quotidiana dos homens do burgo, desta época, derivava da gordura animal. Na alimentação, medieval destes povos, o azeite não era a gordura mais apreciada neste povo como afirma Iria Gonçalves.
É muito interessantes as conclusões deste estudo efectuado por Iria Gonçalves:
"povos do Noroeste peninsular que tinha como fonte de subsistência a criação de gado em regime silvo-pastoril. Os autores clássicos, em especial Estrabão, referem que o gado era abundante entre os povos do Norte (III, 154) que sacrificavam bodes e cavalos a uma divindade idêntica a Ares grego (Mars Cosus). O gado bovino e suíno constituía a base de alimentação destes povos do norte peninsular, como se depreende ainda das referências de Estrabão (III, 162; 155) à fama dos presuntos cantábricos e cerretanos. As gorduras animais, em especial do porco, tinha um papel 251 importante no regime alimentar destes povos que, ainda segundo Estrabão, substituíram o azeite pela gordura do porco (Livro III, 4, 11) e pela manteiga (III, 162; 155). Aliás a utilização das gorduras animais não é apenas característica das comunidades da Idade do Ferro. A escassa presença de contentores de azeite ao longo de todo o período imperial e os dados obtidos pelas análises arqueométricas realizadas na Universidade de Santiago mostram que a romanização do Noroeste Peninsular parece não ter implicado uma transformação imediata dos hábitos alimentares das povoações indígenas (Dopazo Martínez, et alii, 1996: 294). Neste estudo o porco (Sus Domesticus) aparece como o terceiro componente principal das actividades pecuárias galaico-romanas, evidenciando um aproveitamento básico da carne que de acordo com os autores poderá ser testemunho dum momento de "relacíon óptima entre magro y grasa" (id. ibidem, 295)."
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4721/1/Vol.1%20Parte%20I%20-%20II%20-%20Texto.pdf
Voltando ao sul, onde o mouro lidava arduamente os campos constata-se nos documentos do século XII e XIII um desenvolvimento da agricultura.
Enquadra-se neste tempo - da ocupação Islâmica - os fragmentos de talhas e ânforas para conservação de azeite e azeitonas em Silves. Estes achados, identificados pela arqueologia indicam a prática da olivicultura como informa Gomes (2002, 63). (Paqute, MANUEL; O Azeite na Cultura e no Património Alimentar; página 22)
Império da Reconquista Cristã...

Condado Portucalense em 1070
A história do Condado Portucalense começou a ser construída por volta do ano 1000, localizado a norte da atual área geográfica portuguesa. Defrontámos com novos elementos e até com a palavra chave para este tema, a expansão da oliveira!

Bandeira do Condado Portucalense
Após a perda dos territórios para os Mouros vindos do norte de África, o Rei Afonso VI de Leão e Castela travou várias lutas contra os mouros e pretendia defender os seus territórios e obtê-los de volta.
Todavia, o Rei sentia que o seu reino/terras estavam, cada vez mais, em perigo de as perder e resolveu dividi-las em territórios e entrega-lo a pessoas de seu interesse.
Ao Conde Henrique de Borgonha foi-lhe entregue as terras do atual norte de Portugal.Travou lutas e escolheu a cidade de Guimarães como a capital do seu novo território.
Após a morte do Conde Henrique de Borgonha em 1112, sua esposa Dona Teresa fica a governar, anos depois, casou-se com um fidalgo galego de seu nome Fernão Peres. Este casamento coloca em risco a dependência deste condado, a favor dos Espanhóis.

"D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal." wikipedia
Afonso Henriques, aos 14 anos, filho de Dona Teresa com o Conde Dom Henrique enfrenta sua mãe e arma-se cavaleiro vencendo a Batalha de São Mamede em 1128.
Defendeu pelos seus próprios interesses e, as suas opções, foram por si pensadas e realizadas pensando que seriam as melhores para o seu Condado. Batalhou nos seus ideais e nas suas lutas contra os Mouros alargando, cada vez mais, os territórios para sul.Na Batalha de Ourique (Baixo Alentejo) se declarou a independência do Condado Portucalense no ano de 1139.

"O Reino de Portugal na península Ibérica (1210)."wikipedia
Com esta ocupação de territórios, a sul, acresciam riquezas para o Reino de Portugal e o impulso da Reconquista Cristã.
Afonso Henriques - Fundação do Castelo Leiria 1135
Afonso Henriques - Batalha de Ourique Ourique 1139
Afonso Henriques - Tomada do Castelo Santarém - 1147
Afonso Henriques - Conquista de Lisboa Lisboa - 1147
Afonso Henriques - Batalha de Sacavém Sacavém - 1147
Afonso Henriques - Tomada do Castelo Almada - 1147
Afonso Henriques - Tomada do Castelo Palmela - 1147
Afonso Henriques - Conquista Alcácer do Sal - 1158
Afonso Henriques - Conquista do Castelo de Cera - Tomar 1159
Afonso Henriques - Conquista de Évoramonte - Évoramonte 1159
Afonso Henriques - Conquista de Beja - Beja 1159
Afonso Henriques - Reconquista de Beja - Beja 1162
Afonso Henriques - Conquista de Évora - Évora 1165
Afonso Henriques - Tomada de Serpa - Serpa 1166
Afonso Henriques - Tomada de Moura - Moura 1166
Afonso Henriques - Batalha de Badajoz - Badajoz 1169
Sancho I - Conquista de Alvor - Alvor 1189
Sancho I - Cerco de Silves - Silves 1189
Afonso II - Batalha Navas de Tolosa - Navas de Tolosa 1212
Afonso IV - Batalha do Salado - Cádiz 1340
https://pt.wikipedia.org/wiki/Reconquista

Manifestis probatum foi uma bula emitida pelo Papa Alexandre III, em 1179, que declarou o Condado Portucalense independente do Reino de Leão, e D. Afonso Henriques, o seu soberano. Esta bula reconheceu a validade do Tratado de Zamora, assinado a 5 de outubro de 1143em Zamora, pelo rei de Leão, e por D. Afonso Henriques." wikipedia"
Uma referencia histórica importante referente à oliveira refere-se ao ano de 1147 quando Lisboa foi conquistada aos Mouros pelo Rei D. Afonso Henriques. Um grande contingente de cruzados do Norte da Europa veio ajudar decisivamente a captura de Lisboa. Após a sua conquista, foi escrita uma carta em Latim designada "De Expugnatione Lyxbonensi" carta esta, que descreve detalhadamente a história do cerco de Lisboa.

Gama Barros 8 Tomo IV- página 499
Forais concebidos em Portugal...
As cartas de forais concebidas em Portugal, entre o século XII e século XVI, são os documentos reais que estabeleciam um conselho e regulamentava a sua administração, deveres e privilégios.
Estes forais, existentes em Portugal, tornam-se nos documentos mais antigos cuja referência do azeite é plenamente incluído na listagem de produtos produzidos no país.Eles informam-nos as regiões de produção e o consumo do azeite, bem como, notas fiscais relatando o valor de pagamento do imposto deste produto.No foral de Évora datado de 1166 é considerado o foral modelo para outras cidades:
Foral de Proença-a-Velha-1218
Foral de Sortelha - 1228-1229
Foral de Salvaterra -1229

O primeiro Foral de Évora, datado de 1166: in: https://www4.cm-evora.pt/pt/conteudos/Arquivo%20Municipal/Foral%20Afonsino.htm
O autor F. P. Langhans refere na sua obra "Apontamentos para a história do azeite em Portugal" que os forais:
"referem-se ao azeite quando tratam dos direitos de portagem ao imposto que incidia sobre as mercadorias entradas nos recintos amuralhados das cidades, vilas ou lugares" (Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 20)No ano de 1162 foi regulamentada a exploração olivícula incentivada pelo Grande Mestre da Ordem dos Tempelários- Gualim Pais. Este Cruzado, Freire Tempelário, Cavaleiro de D. Afonso Henriques e fundador da cidade de Tomar, segundo o autor Guimarães, (1979: 9) fora quem construíu os moinhos e lagares na "Ribeira de Tomar".
"A ordem do Templo depois de convertida na Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo, nos finais do século XIII, detinha o exclusivo da exploração dos lagares de azeite na região de Tomar, cujo monopólio foi disputado pelo alcaide mor local, que contestava a obrigatoriedade de todos "moerem nos lagares dos Freires e só neles". Contudo, uma sentença régia, de 13 de Junho de 1295, confirmaria esse exclusivo à Ordem do Templo."
(Paqute, MANUEL; O Azeite na Cultura e no Património Alimentar; página 32)
No entanto, há muitos outros forais da mesma época, que não têm referência ao azeite, mas que agrupam-se dentro de vastas zonas territoriais. Langhans, conclui que, o "consumo se circunscrevia a estas latitudes que, em virtude de outros dados, sabe-se que coincidiam com as zonas produtoras ou, pelo menos, como zonas contíguas a estas"Como exemplo, temos o foral de Santarém de 1176, "que foi dado, não poder destinar-se à revenda o azeite trazido, para consumo próprio de Lisboa ou de outro sítio."
Nos forais da Beira Alta, do Douro, de Trás-os-Montes e do Alto- Minho não há referências deste óleo extraído da azeitona.Esta situação, já fora referida que a norte de Portugal o cultivo da oliveira na época Romana e na zona da Galiza não é garantida pelas referências paleobotânicas correspondentes a estudos antraco-ógicos realizados no Minho e Trás-os Montes (Figueiral, 1990; Figueiral in Bettencourt 1999) e também estudos polínicos realizados aos maciços galaico-minhotos e no extremo ocidental da Península Ibérica que foram investigados pela Universidade Santiago.
"A escassez das conhecidas ânforas Dressel 20 no Noroeste peninsular tem sido reiteradamente sublinhada por quantos têm estudado a região (Naveiro, 1991 a: 67-69; Paiva, 1993: 103; Fabião, 1993-94: 236; Morais, 1998: 81-82). Não se trata de uma deficiente avaliação dos dados disponíveis. Como bem sublinha Carlos Fabião (Fabião, 1993-94: 239), existe uma "ampla e diversificada" informação para o Noroeste peninsular que permite, desde logo, afastar a hipótese de se tratar apenas de uma deficiente "geografia de investigação". Tal situação não deixa de causar alguma perplexidade, visto que se trata duma região onde a olivicultura não encontra as condições ideais de desenvolvimento. Como se sabe o cultivo da oliveira em época romana no Norte de Portugal e na Galiza não é garantido pelas referências paleobotânicas correspondentes a estudos antracológicos realizados na região do Minho (Figueiral, 1990; Figueiral in Bettencourt 1999) e Trás-os-Montes (Figueiral in Sanches 1992; Figueiral 1995) e pelos estudos polínicos realizados nos maciços galaico-minhotos e no extremo ocidental da Península Ibérica pela Universidade de Santiago. Nos diagramas polínicos registou-se apenas a presença da oliveira como planta silvestre (Olea sylvestris L.), testemunhada no final da Idade do Bronze, ou mesmo ainda em períodos anteriores à adopção da agricultura (Ramil-Rego, 1992; Ramil-Rego 1993; Dopazo Martínez, et alii, 1996: 322-3; RamilRego et alii, 1998)."
Carlos Fabião menciona que não se deve a uma deficiente avaliação dos dados disponíveis (Fabião, 1993 - 94: 239). Nesta investigação, dos diagramas polínicos, só há a confirmação da existência da oliveira como planta silvestre -oleia sylvestris L.- testemunhada na Idade do Bronze ou até períodos anteriores. (Ramal Rego, 1992)
Em Évora no anos de 1392 há um documento fulcral para a história da olivicultura em Portugal. Este documento definido por "O Regimento da Cidade de Évora", escrito pelo corregedor João Mendes de Góis, pertencente à Corte do Reinado D. João I, descreveu neste regimento a primeira regulamentação sobre os olivais, lagares e azeite.
F. P. Langhans (Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 23) nos descreve essas minuciosas leis:
"1- O corte de lenha de oliveira verde ou seca era punido com prisão, multa e indemenização ao dono; 2- O dono do gado que deixasse este andar, de dia, pelos olivais, era punido com multa e seria com a pena de degredo verificado certo número de reincidências ; 3- Enquanto tivessem azeite alheiro, os lagareiros eram obrigados a terem as tulhas fechadas, sob pena de multa para o concelho e reparação para o dono; 4- Os lagareiros eram obrigados a fazer as moeduras iguais e por medida direita: 12 fangas, medidas por fanga direita de 2 alqueires cada fanga; 5- Conforme a moedura era de SARTAAM ou de CALDA assim era fixado o salário do lagareiro; 6- A água dos lagares devia ir ter às fontes; 7- Só se permitia corrais de gado e de porcos fora da cidade, para lá dos olivais; 8- "Porque os olivais não podem dar os fruytos se os nom lavrarem e nom os lavrando se hyriam a perder o que seria grande perda da cidade e moradores della" mas ao lavrarem-se acrescenta, os bois deviam ser trazidos à mão e com pegureiro"
O historiador erborense Gabriel Victor do Monte Pereira (1847/1911) era um homem apaixonado pela história e nos traduziu os livros de Estrabão e Plínio (obras que nos caracterizam a geografia da Península Ibérica).Este historiador, na sua obra referente aos documentos históricos da cidade de Évora - Estudos Erborenses - História e Arqueologia, reúne os trinta e sete fascículos publicados entre 1884 e 1894, fazendo referência ao regimento de Évora de 1392, obra de onde Langhans extraiu as leis regentes.
A monarquia da Idade Média fazia as suas inquirições, ou seja, averiguavam de maneira minuciosa, verificando se algum membro da nobreza ou do clero se tinha usurpado de bens da Coroa Portuguesa. Nas inquirições de 1395 há registos que nos olivais, mais concretamente, da Beira Baixa - Covilhã a seguinte referência:
"hun chaão dentro da victa villa... qual chãao esta tapado sobre sy que ora he chentado do olival."
Langhans (Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 21) nos explica que o azeite nos fins do século XIV não devia de ser das primeiras riquezas agrícolas da Beira Baixa.
Era das Descobrimentos...
A estabilização das suas fronteiras a 1297 torna Portugal o país Europeu com as fronteiras mais antigas.
Portugal, foi o pioneiro na exploração marítima na Era dos Descobrimentos Portugueses entre 1415 e 1543. Com esta expansão portuguesa e com os seus descobrimentos contribuiu-se para a delineação dos primeiros mapas de cartografia mundial.
Em 1419 iniciaram a exploração da costa de África aplicando os recentes desenvolvimentos da área da cartografia, navegação, tecnologia marítima e tinham o objectivo de encontrar uma rota marítima lucrativa para o comércio das especiarias do oriente.
No ano de 1488, o navegador português, Bartolomeu Dias foi o primeiro europeu a navegar para além do extremo sul de África "dobrando" o lendário Cabo da Boa Esperança chegando ao Oceano Índico por meio do Oceano Atlântico.
Em 1498 o navegador, explorador e comandante português Vasco da Gama navegou da Europa para a Índia, sendo até a esta data, a maior viagem náutica realizada. O Rei D. Manuel I confinou o cargo de capitão-mor da frota que zarparam de Belém (Lisboa) a 8 de Julho de 1497.
No ano de 1500 Pedro Alvares Cabral chegou à costa atlântica sul-americana, mais concretamente às terras que constituem o Brasil.Nos anos seguintes os descobridores marítimos lusitanos exploraram as ilhas do leste da Ásia criando fortes e feitorias.
Resumindo, as terras do Reino de Portugal atingiram proporções até África, América do Sul, Ásia e Oceânia! A riqueza oleícola iniciou seu pico nos fins do século XIV e este fato deve-se ao "alardeando a abundância do Reino" narrado na terceira crónica no Rei D. João I escrito por Gomes Eanes de Azurara (1410 / 1474).
Este autor fora o Guarda/Conservador da Livraria Real e Guarda- Mor da Torre do Tombo e em 1004-150 escreve:
"crónica del Rei D. João I de Boa memória. Terceira parte em que se conta a tomada de Ceuta (Lisboa 1644)".
Nesta crónica é referido o azeite:"GRANDES MJLTOS PORTUGUESES Acabamos, portanto, de vêr que os dois problemas vitais que a agricultura então apresentava - o do apro- veitamento das terras incultas e o da mão d'obra - preocuparam muito D. João I que buscou resolvê-los promulgando, durante quasi todo o seu reinado, suces- sivas medidas por meio das quais procurava proteger o desenvolvimento agrícola do país. E que os seus esforços não foram improfícuos demonstra-o o facto de que, quando se fez definitivamente a paz com Castela, o aspecto agrícola de Portugal era consolador. Eis o que a este respeito Azurara atribue aos velhos que andavam radiantes pela conclusão da paz : «Agora he Portugal o mayor & mais bem aventurado reino que ha no mundo ca nos temos antre nos todalas boas cousas que hum Reyno abastado deve ter, nos temos grande avon- dança de pam, por tal guisa, que nunca a destempe- ranca dos tempos pode ser tamanha que sempre em alguas das nossas comarcas nam aja pam, com que se as outras possam repairar, & ainda quando os annos forem iguaes, de nossa avÕdãça poderemos aproveitar a muitos de nossos amigos. Temos muitos vinos de desvairadas nações, de q nam somente a nossa terra he abastada, mas ainda se carregam muitas nãos & navios para socorrimento de terras estranhas. Pescados do mar e de rio sam tantos e taes que em outras nenhíjas partes do mundo sam achados & em mayor avondamça, ca dos nossos portos se mantém muy grande parte da Hespanha. Azeites e melles sam ãntre nos tantos e tam boos, que os nossos vizinhos ham mister de nos & nam nós delles. Carnes de todalas maneiras proveitosas & de grande sabor, que nas nossas terras & campos se criam per todolos tépos do anno, quaes e quejandas as naturezas dos homens sãos & doentes ham mister. Fru- tos e legumes como todalas outras cousas nacem em nossas terras sem grande trabalho dos homés. & assi avemos estas cousas em tamanha abastança que a m.ul- tidam nos faz despresar sua valia» (')."(') Chron. D. João I; III Parte, por Azurara; cap.5
O Rei regente desta época, D. João I, em 4 de julho do ano de 1399 dizia:
"No concelho de Coimbra que a principal produção agrícola era ahi o azeite"
(Gama Barros Tomo IV - página 49)
Os conselheiros falaram com D. João I e informaram que os lavradores de Coimbra pediam a liberdade do comércio do azeite. D. João I atendeu o seu pedido, mas na condição de os carregarem no rio e foz do Mondego, para fora do Reino ou para consumo interno do país.
"era um olival cerrado, impenetrável à vista"
(Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 27).
Costa Lobo faz uma retrospetiva do olival a nível de Portugal no século XIV dizendo:
1- Planícies do Alentejo:
"Évora encontra-se na orla daquela fixa, cuja linha mediana se dirige de Ourique a Castelo de Vide passando por Beja, Vidigueira e Vila de Estremoz; faixa, já no século XV, fecunda em pão, vinho e azeite, e onde se encontra o mais ubertoso e cultivado torrão do Alentejo"
2- Algarve:
"escassa a cultura de cereais e diminuta a criação de gados; as herdades constavam, pela mor parte, de OLIVEDO e figueirais"
3- Norte:
"nas relações dos magistrados com o governo central, o Porto é por eles representado como uma rocha estéril, não produzindo nem pão, nem azeite, nem vinho. "
4- Beira:
"os magistrados municipais indignavam-se, nas Cortes de 1482, de que muitos indivíduos, contra as disposições do foral, introduzissem vinho estranho em uma cidade, que não tinha lavouras, nem olivais, mas somente algumas vinhas, com que suportava a existência;..."
-Em oposição as cidades de Lamego, Viseu e da Guarda "na feracidade do torrão circunjacente, Lamego era a mais avantajada destas cidades. No meado do século XV expedia para o Porto cereais, azeite, vinhos e vinagre"
(Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 27)
Exportações...
Jaime Cortesão era um notável médico dos anos 1884/1960, um intelectual que nos deixou várias obras subordinadas ao tema - "Comércio com a Índia". Um tema vastamente assumido e debatido nos seus pontos de vista:"comércio de trânsito que em nada ou em quase nada beneficiava a indústria nacional. Quase todos os produtos de troca enviados para o Oriente, o cobre, o azougue, a prata , os tecidos, executando vinho e o azeite, eram importados do estrangeiro, e a sua venda na índia pertencia exclusivamente ao rei." (Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 29)
Referente à exportação para a Índia pode ser constatar ainda o seguinte, Frei João de S. José, afirma-nos:"...e assi he também o fruito q da e por isso deste Reyno (do Algarve) se faz conserua todos os annos que se leua em pipas e quartos p.a as Índias e outras m.tas partes do Mundo." (Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 79)
Há uma narração escrita pelo Freire da Oliveira, que ao organizar os documentos do Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa, comentou que no século XIV o azeite era um produto tão abundante que:"ainda no reinado de D. Fernando I havia tanta abundância no país que Flandres, Alemanha, Castela, Leão e Galiza se abasteciam de azeite de Lisboa, Coimbra, Elvas, Moura e Beja." (Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 35)
No século XIII a cidade de Bruges prova através da "Cartulaire de l´ancierme estaple de Bruges" nos regista que Portugal exportava entre os produtos portugueses o azeite de oliveira português.
Na segunda metade século XVI era uma boa fonte riqueza para economia do Reino.O azeite, era utilizado na alimentação humana, preparação dos alimentos, usado como uma das principais fontes de combustível para iluminação. Usava-se também para a fabricação de certos produtos como o sabão e vários medicamentos.
2- "De todas as cousas que se venderem ou trocarem se paguem de siza 2 solos por libra, o vendedor hum e o comprador outro; porém de pão cozido ouro e prata nada se pague, e do sal 5 libras por alqueire.-Seja pois a siza nas vendas a décima parte do preço dellas nas trocas do valor das cousas trocadas que para isso serão avaliadas: e quanto ao sal seja de 10 libras por adquire."
3- "... semelhantemente serão havidos por vendas e sujeitos à siza os contractos, pelos quais quaes as pessoas que tem terras ou rendas arrendadas por pensões certas de pão e vinho ou azeite, vendem as ditas pensões por preço certo ou por outra espécie diversa da do contracto, ou, ainda não sendo certas essas pensões, se os arrendamentos se fizerão sendo de pão depois do 1º de Agosto, e sendo de azeite e vinho ou meuças depois de apanhados e sabidos estes fructos."(Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 39)

"...e esto vos faço per tal, que dedes a mim wm cada hum anno senhos maravedis de cada huã cabeça des aquelle tempo, que o mantimento necessario gaançar poderdes; e que dedes a mim Alfitra, e Azaqui, e a dizima de todo o vosso trabalho; e todallas minhas vinhas adubedes, e vendades os meos figos; e o meu azeite, como venderem os moradores da Villa a terça parte dos meus moios."
2ª)- A segunda regulamentação é uma legislação medieval portuguesa encontra-se nos "Estatutos de Coimbra de 1145", e o autor do livro PMH de Herculano nos descreve o seguinte: A-
"... E esto vos faço per tal, que dede a mim em cada hum ano senhos maravedis de cada huã cabeça des aquelle tempo, que o mantimento necessario gaançar poderdes; e que dedes a mim Alfitra, e Azaqui, e a dizima de todo o vosso trabalho; e todallas minhas vinhas adubedes, e vendades os meus figos; e o meu azeite, como venderem os moradores da Villa e terça parte dos meus moios."B- "... Item de tendariis ... Vendant oleum ad sumum de cubello uno pro medio morabitino."
(Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 44)
Estas são as duas primeiras transcrições da história legislativa do azeite português, até à presente data que se tenha conhecimento.
Quanto à venda do azeite e o seu local onde este tipo de comércio deveria-se praticar e os costumes de 1280 em Évora registam:
"E tollés que non som vezinhos e aduzem venda aa Villa comuem a saber trigo ceuada milho centeo ou legumha ou sal ou azeyte ou pescado ou fruytas ou verças dalmuya devem his vender ao açougui E da seu foro... Item de carrega de azeite de caualo VI dinheiros. "
(Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 45)
Outro elemento interessante refere-se ao AUTO DA MOFINA MENDES ou dos MISTÉRIOS DA VIRGEM 1534 de Gil Vicente, apresentado nesse ano na festa do Natal ao Rei D. João III. Neste elemento, faz referência à venda do azeite nas feiras.
Links:https://www.joraga.net/gilvicente/pags/ximagens43MofinaM.htm

"Mofina Mendes:
-Vou-me à feira de Trancoso
Logo, nome de Jesu,
E farei dinheiro grosso.
Oo que este azeite render
Comprarei ovos de pata
Que he a cousa mais barata
Qu´eu de la posso trazer."(página 78)
Inúmeras referências são citadas pelo historiador Almeida Franz Paul Langhansque leu os forais dos concelhos de Portugal e partilhou-nos no seu livro - Apontamentos para a história do azeite em Portugal (Editado pela Junta Nacional do Azeite no ano de 1949), muitas referências do sector oleícola destes tempos.


Reinado de D. Manuel...
"Ao rever as posturas da cidade de Lisboa e os regimentos dos ofícios da mesma cidade, juntou muitos preceitos dispersos e deu forma definitiva a muitas regras disciplinadoras da vida rural e económica, devendo-se destacar, pelo interesse que tem para o presente trabalho, o Regimento dos Lagareiros dos Lagares de Azeite, -contido no Livro dos Regimentos dos Ofícios Mecânicos, compilado em 1572."
"... se não taxe aos Lavradores o pão, o vinho e o azeite, deixando-lhes a liberdade de regularem os seus géneros."
1- "...se fizesse comer, assim assado como cozido, à boca da fornalha e também fazer tibornas, a não ser os próprios donos dos azeites para si e para os oficiais do lagar."
2- "No tempo dos antigos lagares de vara era costume, por vezes, fazer-se neles o que se chamava uma "tiborna" (pão quente embebido em azeite novo), o que constituía, afinal, um pretexto para uma ceia alegre. O dono da azeitona que se mova, para provar o seu azeite, levava um ou mais pães de trigo, moles, que se embebiam bem no azeite, comendo-os depois com alguns amigos "sic" convidados e os lagareiros. Outras vezes era o pão partido em fatias delgadas e estas fritas em azeite, sendo noutra o pão torrado e depois regado fartamente com azeite. Mais modernamente era tudo isto acrescido com bacalhau cozido ou assado e hortaliça e em todas as circunstancias tudo acompanhado de vinho, nesta altura já da colheita do próprio ano."
Expressão plástica...
"... dûa antiga Hermida de Santo Antam do hermo he chamado ho valle de Sancto Antão onde agora he o mosteiro de freiras da Anunciada, donde começa outro monte coberto dolivais encima do qual estaa a hermida de Sancta Anna..."
Link:https://purl.pt/14435https://www.museudacidade.pt/Coleccoes/Gravura/Paginas/Panoramica-de-Lisboa.aspx
Recipientes para transporte...
"...a azeitona guardava-se em tulhas e o azeite cru em potes. Os lagares deviam possuir tulhas capazes de recolher cinquenta moeduras de azeitona.As seiras, não podiam ter, sem licença da Câmara qualquer medida que não fosse a da bitola da Cidade."
Centros produtores...
Quanto aos centros produtores o historiador, jurista e linguista português, de origem judaica, Duarte Nunes de Leão nasceu em Évora em 1530 e publicou diversas coletâneas de documentos, entre eles, "A genealogia sobre a Casa Real Portuguesa" e a "Descrição do Reino de Portugal" datado de 1610.

"Finalmente em todos os logares de portugal e comercial do Algarve se dá azeite contra o que THEOPHRASTO screveo, que diz nam se darem oliveiras afastadas do mar quarenta milhas que sam dez legoas, do que vamos ver o contrario nas cidades de Évora, Beja, Elvas, & na Villa de Moura em que ha mais copia que em nenhum lugar do reino & nas villas de Serpa, e Estremoz, Porel (Portel?), & outras, & em outros muitos mais lugares do alentejo & de estremadura, & da Beira mettidos pello sertam muitas mais legoas afastadas do mar por hi ser o ar mais tepido, & mimoso se dam as oliveiras melhores. Porque (como dizia hum Fabiano, que Plinio allega no livro 15, Sapit. I). as oliveiras nam se dam em terras frigidíssimas, nem nas caladíssimas como vemos, que as não ha em Allemanha nem em Flandres, nem nas outras primicias chegadas ao Norte, nem na Etiopia, nem na Índia nem em outras terras tam quentes."
(Langhans, F.-P.; Apontamentos para a História do Azeite em Portugal; página 84)
Link: https://purl.pt/13347
Crise de sucessão à CEE...
O lagar...
Quando a técnica usada no século XVI temos uma referência na obra da "Cronografia no Reino do Algarve" escrito pelo Frei João de São José:
"toda a azeitona se apanha à mão assim como vai caindo e isto não é muito dificultoso por ser grande e famosa; e assim é também o azeite belo e saboroso; quer-se feita em fresco ou ao menos que lhe não tardem muito, ao contrário da nossa galega de Portugal, porque, se se descuidam dela, come-a o sal e funde muito menos"
(Paqute, MANUEL; O Azeite na Cultura e no Património Alimentar; página 26)
Guerreiro e Magalhães, 1983: 117 refere também as variedades ou castas existentes nesta época a Galega, Veredal e a Longal.
Quanto ao modo de extração do azeite Frei João de São José refere:
"não costumam os Algravios fazer seu azeite comummente em lagares de mós e varas como cá, posto que alguns há que ficaram do tempo antigo e já se vão desfazendo, salvo quando a novidade é tanta que a necessidade os contranja; e não sei se a pouca confiança dos lagareiros, a que eles em toda a parte dão ocasião, se o mau aviamento, que no fazer do azeite muitas vezes há, deu motivo a se inventar um motivo fácil e proveitoso de que todos estão tão satisfeitos, que, se não é em alg~ua grande safra, não há homem que sua azeitona queira dar a lagares de vara". "um ou dous lagares de pau, feitos de duas ou três tábuas grossas, pesadas, muito juntas sobre ~uas travessas com suas bordaduras ou torno, as quais assim juntas fazem cinco, seis palmos em largo e oito, nove em comprido, à madeira de tabuleiro, e a isto chamam eles lagar. Tem ~ua bica no meio duma das cabeceiras e assentam-no sobre dous barquinhas para isto feitos, quando se querem servir dele; e, acabado o seu ofício, encostam-no a ~ua parede té que o tornam a haver mister. É tão fácil e maneiro este engenho que o carregam sobre qualquer besta e o levam de um cabo pêra o outro com pouco trabalho e serve de lagar de azeite e também de vinho, com o alimparem primeiro"
"Depois de previamente prensadas num moinho manual ou marteladas à mão, as azeitonas são postas numa taleiga, e, numa queijeira, submetidas à pressão manual ajudada por jarros de água a ferver; dali escorre para um alguidar e graças às suas propriedades físicas o azeite separa-se da água. Uma fervura de panela acaba de os separar, e está pronto a ser provado nas tibornas, as torradas embebidas no azeite acabado de fazer"
"Memórias e observações sobre o modo de aperfeiçoar a manufactura do azeite de oliveira em Portugal".
"armados de paus" principiaõ sem regra nem descrição, e sem misericórdia a varejar aquela benéfica com tanta força, que lançaõ as azeitonas mais pegadas, Como se atirassem com uma pedra na funda: fazem cahir todos os ramos mais tenros, quebraõ e lascaõ os ramos mais grossos e velhos, e deixaõ miserável oliveira quasi despojada de folhas, cheia de mataduras, golpes e feridas "
"As mulheres e moças entretanto cantando recolhem à maõ todas as azeitonas que achaõ sobre o terreno, tirando-as dos raminhos cahidos, e à maõ cheia deitar dentro dos cestos, misturando junto sem reflexa as maduras, as verdes, as secas, as podres, as piadas, as imundas, e as de toda a bôa e má qualidade"
"outra exigência para garantir a boa qualidade do azeite e evitar a alta acidez, era o rápido transporte da azeitona para o lagar"
Estes estudos, foram implementados em Portugal e permaneceu até 1840. Foi o início para o contributo do melhoramento do azeite português sendo este um produto extremamente exigente.
Nesta fase, se gerou um debate devido ao modo da apanha da azeitona, o entulhamento, o labor lagareiro e sobretudo a falta de higiene nos lagares desses tempos.
No século XIX surgiu a primeira grande inovação tecnológica destinada à extração do azeite com a introdução dos cilindros cónicos na moagem e da prensa hidráulica.
Custodio, afirma que a prensa hidráulica foi a revolução (1998: 24) dos lagares de tradição romana - compostos por uma coluna de parafuso e de uma alavanca tradicional.
Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (1810-1877) o nosso famoso poeta, escritor, historiador, jornalista, da era do romantismo, também era dado à vertente oleícola.
O seu espírito visionário e inovador fez com que no ano de 1859 introduzisse no seu lagar, (localizado na Quinta do Vale de Lobos situada em Azóia de Baixo, Santarém-Ribatejo-Portugal) tecnologia italiana. França e Itália, fora neste tempo, os dois países onde tecnologia era a mais avançada para esta indústria. Alexandre Herculano apresentou deste modo o primeiro azeite de marca premiado em várias exposições internacionais.

Rótulo do azeite de Alexandre Herculano, imagem da web
Link: https://www.casadoazeite.pt/Portals/0/Casa%20Do%20Azeite/publicacoes/az-zait/revistas/Azzait16.pdf
Em 1851 na história do Grupo Jerónimo Martins nos informa sobre este azeite o seguinte:
"Um novo produto viria enriquecer as prateleiras da loja: azeite produzido em Vale de Lobos pelo escritor, historiador e político Alexandre Herculano.No contrato firmado pela sua letra miúda e segura, Herculano defende o seu "azeite fino", asseverando que "quaisquer amostras que tragam o meu nome, quer só, quer associado com outro, são completamente falsas". Durante o século XIX, a loja foi ganhando cada vez mais prestígio.Venda de produtos importados na loja do ChiadoA loja do Chiado disponibiliza já uma grande variedade de produtos: num anúncio do Jornal do Comércio convida-se à compra de "verdadeiros queijos de Gruyère, londrino e parmesão, barrilinhos de superiores azeitonas de Marselha, salames de Lyão e d'Itália, latas com sardinhas de Nantes, anchovas de Marselha, passas de Málaga, vinho de Champagne, genebra da Holanda, cognac de França... e tudo o mais que se possa imaginar"."
in: https://www.jeronimomartins.pt/o-grupo/historia.aspx
A aposta inovadora e modernizada deste lagar aliado a um azeite de qualidade fez com que outros agricultores seguissem os seus ideais, apostando assim, na modernização dos seus lagares.Temos como exemplo o lagar da Quinta da Cardiga que na altura pertencia ao lavrador Almeida Lima, o lagar da Quinta dos Inglesinhos em Cascais e a fábrica do Visconde da Junqueira em Almeirim. Estes dados são informados por Jorge Custódio na sua obra - "O lagar e o azeite Herculano" editado pelo Município de Santarém.

Capa do livro, imagem da web

Foto da Web referente ao Barão Forrester

Foto da Web referente ao mecanismo de lagar
"Já a empenhada participação do Barão de Forrester emexposições internacionais e nacionais granjeou rasgadoselogios dos jornais e revistas portugueses. Se, por ocasiãoda Great Exhibition de 1851, teve "o desgosto de ver que osseus produtos [amostras de vinhos, vinagres e azeites, feitossob sua direcção], com quanto chegassem a Lisboa aomesmo tempo que objectos similhantes de outros expositores,não tinham sido enviados para Londres"45, sem que lhefossem explicados os motivos para tal, já em 1855 participouna Exposição Universal de Paris "com mais de quatrocentosartigos, todos de producção portugueza, sobresaindo entreelles varias obras sobre Portugal, e especialmente sobre o rioDouro e paizes circumvisinhos; vinhos, azeites e vinagres;modelos de lagares de vinho e prensas de azeite com algunsmelhoramentos introduzidos por elle, conjunctamente comseus filhos; uma variada collecção agricola das producções doDouro, necessarias para o alimento e conforto do homem ede animaes; e finalmente differentes outros objectos caracteristicosdo uso e da feição original dos povos d'este paiz"46,ainda que, para sua indignação, as autoridades portuguesaso tenham de novo tratado com desconsideração e parte dosobjectos que enviou para a capital francesa não tenha chegadoa ser exposta. Conquistou então uma medalha de prata ecinco menções honrosas, prémios que se juntaram aos alcan-çados nas duas exposições agrícolas do Porto, em que foi umdos principais expositores4." in Fundação Robison
Links:
https://www.academia.edu/4975032/Joseph_James_Forrester_uma_hist%C3%B3ria_do_Douro
https://www.fundacaorobinson.pt/multimedia/ficheiros/publicacoes/004_PFR.pdf
Outra fábrica de referência em Portugal pertencia a Companhia União Fabril - CUF. A CUF, foi fundada em 1865 e nesta data lhe foi atribuído o licenciamento para a produção de sabões, estearina e óleos vegetais.
Postal da Vista Aérea das Fábricas da CUF no Barreiro nos anos 30, foto da web.
Em Alferrarede, concelho de Abrantes, foi criada uma fábrica de produção de azeite e no ano de 1896 empregava 275 operários e usava maquinaria a vapor com 60 cavalos.
Bilha de azeite da CUF, foto da web
Lata de azeite da marca "Porto" imagem da web
Imagem da web: Publicação da CUF sobre a Oliveira - 1935
A Cuf era quem controlava Casa Gouveia na Guiné e transformava na fábrica do Barreiro o palma, o mendobi, o amendoim e gergelim importado da Guiné e colocavam este produto alimentar, de menor qualidade, a um baixo preço. É nesta altura que surge a mistura do óleo de amendoim com o azeite.O setor das oleaginosas estava neste tempo dividido entre os produtores de azeite e os grandes interesses da refinação de óleos.
Em 1930 os produtores de azeite reclamavam um regime protecionista para o Azeite Nacional, esta ação foi liderada por dois latifundiários que, por sua vez, eram deputados: Almeida Garrett e Franco Frazão. Levaram à tribuna da Assembleia Nacional esta situação e exigiram:
"o condicionamento da importação do azeite, a proibição da mistura do óleo de amendoim com o azeite, a limitação da produção de óleo (monopólio CUF), e a classificação do azeite como único óleo alimentar; em suma, pretendiam que o mercado interno fosse reservado ao azeite nacional (Rosas, 1986: 174; Amaral, 199: 154-155)"(Paqute, MANUEL; O Azeite na Cultura e no Património Alimentar; página 38/9)
(Paqute, MANUEL; O Azeite na Cultura e no Património Alimentar; página 38/9)
O resultado foi obtido em 1929 definindo-se no plano legal "Azeite Puro" e no ano de 1931 foi decretado o Decreto-lei número 20. 041 onde foi promulgado e criado a "Marca Nacional do Azeite" para fins de exportação.

" -fiscalizar a produção e comércio do azeite e dos óleos; -coordenar a acção dos organismos corporativos da produção e comércio de azeites e, bem assim, a das actividades que se dedicam à produção e comércio dos óleos, com o fim de assegurar a defesa da olivicultura e da riqueza oleícola nacional; -exercer a acção reguladora de preços, pelos meios postos à sua disposição e pela disciplina corporativa, de modo a assegurar, na medida do possível, a justa valorização do produto na origem, evitando oscilações injustificadas ou prejudiciais à economia nacional"
